segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Capítulo III - Revolta e Reviravolta (parte 2)


          Fizeram tudo isso, a casa ficou limpa, sem quaisquer indícios de que na noite anterior tivessem ali estado uma manada de jovens com desejos de se divertirem sobre os efeitos do álcool e das drogas. Eram já três horas da tarde quando saíram de casa e foram para a clinica privada onde Elena costumava ir, sabia que lá o seu médico a ia ajudar no que fosse necessário, e claro, sem que os seus pais soubessem. O doutor fez todo o tipo de análises e pediu que lá voltasse em duas semanas, mas entretanto, Elena teve claramente de contar tudo o que se tinha passado com ela, pedindo assim conselhos ao seu médico. Após ouvir tudo cautelosamente, o doutor recomendou-lhe uma óptima clínica longe da zona de Londres onde poderia se dirigir e lá saberiam o que fazer com ela após uma primeira consulta.
            Duas semanas se passaram, Louise e Elena voltaram à clínica para receber os resultados de todos os exames e análises que Elena tinha feito. Teve sorte, não acusou nada de grave, mas o médico mesmo assim, recomendou-lhe alguns medicamentos, pois reparou que os seus níveis do fígado estavam demasiados elevados. Seguidamente, Elena teve de se despedir de Louise novamente, mas desta vez, Louise levou-a até à clínica onde Elena iria passar uns meses para fazer a sua “limpeza” como gostavam de chamar, e lá se despediram. Não foi tão difícil desta vez, pois tanto uma como outra saberiam que futuramente iriam voltar a ver-se, e que da próxima vez, Elena estaria melhor que nunca.
            “Passei quatro meses e duas semanas naquela bonita clinica, foi deveras agradável. É claro que o tratamento era doloroso, pois deixar de consumir algo tão viciante nunca é fácil, mas posso dizer que conheci muito boa gente, e pela primeira vez, mesmo não estando com a Lu, não me senti sozinha. Ali todos me aceitavam por aquilo que eu era, mesmo sabendo que o motivo por eu estar ali remetia a coisas horríveis do meu passado, mas isso não interessava a nenhum de nós, pacientes, apenas interessava aos psicólogos que nos seguiam. Tínhamos consultas com estes quatro vezes por semana, eram simpáticos e deixavam que falássemos sobre tudo o que nos viesse à cabeça. Não era muito do meu agrado contar a minha vida a um estranho, mas já nada disso importava, ganhei em mim a força de vontade que precisava para poder seguir em frente, sem ter que consumir, sem ter que me considerar lixo. Conheci boas pessoas, bons colegas, fazíamos muitos jogos em conjunto, mas vi também muitos deles que tinha recaídas, não é de todo uma visão que eu goste de recordar, pois lembro-me bem que os levavam para uma sala diferente, davam-lhes uma injecção que eles aparentavam logo ficar mais calmos, e posto isto, muito deles, nunca mais os voltei a ver. Uns diziam que eles tinham sido transferidos para outros hospitais, outros diziam que eles continuavam fechados naquelas diferentes salas. Mas, sinceramente, nada disso me incomodou. Passei a olhar para a minha vida de um modo diferente, comecei a desejar viver, a querer ir mais além. Estou muito grata a todos os que dentro da clínica me ajudaram, e fizeram de mim uma nova pessoa. E disto, não desejo falar mais.”
            Após os quatro meses de recuperação, Elena voltou para o seu apartamento em Londres, cheirava bem, a novo, a rosas, parecia que uma autêntica fada do lar tinha passado pelo seu apartamento e tivesse lá deixado uma prenda maravilhosa, um novo bem-estar na sua própria casa. Olhou para o fundo do corredor e viu duas malas no chão, a porta do seu quarto abriu e saltou para os seus braços a sua amiga Lu. Foi um momento radiante para Elena, Louise tinha cumprido com a sua promessa de estar presente quando terminasse a “limpeza”.  
            -Lu, que feliz estou por te voltar a ver, tenho tanto que te contar! – dizia Elena com as lágrimas de felicidade a escorrerem-lhe pela cara.
            -Eu também tenho muito para te contar, nem vais acreditar. Mas olha para ti, estás com tão bom aspecto!
            -Obrigada, tu também estás optima! E o que se passou aqui? Foste tu que arrumaste tudo isto? Até tem decorações novas. Não me digas que andas-te a gastar dinheiro sem necessidade?
            - Não Lenny, não fui eu. Mas está uma carta ali na mesa do corredor para ti…
            Ao abrir a carta Elena estremeceu, sentiu os seus joelhos fracos e a sua respiração ficou acelerada, e a carta dizia:
            “Querida Ms. Depaiva,
           
            Desculpe ter entrado assim na sua casa sem avisar, mas há algo que necessita saber, os seus pais lamentam muito não poder estar presentes no seu próximo aniversário, mas têm de continuar a sua viagem pela Europa.
            Fiz-lhe toda a limpeza necessária e a sua mãe comprou-lhe novas decorações para o seu apartamento, o seu pai necessita de falar consigo, tanto um como outro estão muito preocupados. Por favor ligue-lhes.”
           
            Elena mostrou a carta a Louise, sentaram-se as duas no sofá e Elena pega no telefone.
            -Lenny sei que vai custar - dizia Louise – mas tens de lhes contar, tens de lhes contar o que aconteceu.
            -Lu, eu não posso fazer isso, não lhes vou contar toda a verdade, vou-lhes dizer que estive doente, que perdi o interesse no curso e que desisti.
            -Achas que eles vão aceitar isso assim tao facilmente?
            -Eu falo com o meu pai, ele é compreensivo, apesar de estarem sempre ausentes, eles sempre me deixaram fazer o que eu achasse melhor, talvez se eles estivessem mais vezes ao meu lado eu não teria tomado o caminho que tomei.
            -Mas agora não te podes lamentar, tens de seguir em frente. Fala com eles, explica-lhes a situação como achares melhor, mas por favor, faz-lhes ver que irás fazer algo da tua vida, algo de bom.
            -Não te preocupes, esse é o meu objectivo!
            Elena falou com o pai durante algum tempo, cerca de quarenta e cinco minutos. Uma conversa que nunca tinha tido com ela, no entanto, deixou-lhe o destino nas mãos, como sempre. Disse-lhe que deveria arranjar um emprego, que finalmente deveria crescer, tornar-se uma verdadeira mulher independente, disse-lhe igualmente que lamentava não estarem sempre presente para poder ajudar, mas não poderiam deixar o negócio. Despediu-se rapidamente. Elena desligou o telefone e contou tudo a Louise.   
            -Minha amiga, está na altura da tua mudança – disse Louise muito exaltada.
            -Mudança Lu? O que queres dizer?
            -Lenny, vamos comprar roupa, vamos ao cabeleireiro, e tudo mais, vá meche-te! – dizia puxando-a para a porta
            -Calma Lu! Calma!

domingo, 20 de novembro de 2011

Capítulo III – Revolta e Reviravolta (parte 1);


         “O vento arrasta as coisas, leva-as para longe do alcance físico, para longe da estação actual. O vento trás consigo várias fases: uma suave e meiga que nos faz sentir prazer só de soprar ao de leve pela nossa pele, que nos deixa contemplar tudo o que com ele arrasta, no entanto, tudo passa, nada volta por muito que tentemos, nunca volta. Outra fase, mais brusca, onde o vento sopra com mais força e que lentamente nos vai castigando. Por fim, vem a tempestade onde tudo se desmorona e nada podemos fazer. Já não sinto nada. Estou intacta entre os braços de quem me ajuda a levantar. Desmaiei ao saber o que me aconteceu, simplesmente não queria acreditar.
            Tal como o vento, eu passei por todas as fases: tive o suave prazer de ter a Lu, senti que ela se foi embora e a maneira tão brusca com que isso me afectou, agora, estou a recuperar de uma tempestade. Eu fui violada, e aí as recordações forçadas da noite passada voltam á minha mente, flashes de uma noite de alucinações, uma noite que acabou no meu quarto, na minha cama, com o meu corpo a ser possuído por um ser que desconheço. E nada pude fazer. Não queria acreditar, mas Lu mostrava firmeza e verdade. Aceitei o temporal com dificuldade, mas a revolta tomava conta de mim.”.
            Louise explicou-lhe tudo o que tinha visto acontecer, que depois de a ter procurado no café foi a sua casa, e com grande dificuldade entrou. Havia sacos de Ecstasy e Coca por todo o lado, garrafas partidas, os quadros também eles partidos, mesmo assim, a noite para todos aqueles seres humanos, se assim se pode considerar, era ainda uma criança. Procurou-a no meio da multidão, tentou perguntar por ela, mas era inútil ninguém a ouvia, só queriam “curtir” dos efeitos da droga e ouvir a música irritante que alguém tinha acabado de pôr a tocar. Para eles, tudo aquilo era um paraíso de sensações. Para Louise, era uma imagem do inferno, da qual queria sair imediatamente, mas não sem encontrar Lenny.
              Passando o longo corredor viu dois rapazes a guardar a porta do quarto de Elena. Pediu para entrar, mas sem sucesso, afastaram-na imediatamente da porta e disseram-lhe: “Está a decorrer um evento importante com Miss DePaiva, ninguém pode entrar!”. Dito isto, Louise ouve um grito vindo do quarto, tentou por tudo entrar, mas não conseguiu, com aqueles dois brutamontes a fazer de seguranças, era impossível… Pôs em prática o plano B.
            Foi até á sala, desligou aquela música infernal e pegando no telemóvel disse aos berros: “Quero todos fora daqui, a polícia vem a caminho!”. Quando ouviram gritar o nome da polícia todos se puseram a correr, parecendo uma manada em deslocação. Os que ainda se encontravam sóbrios ajudaram os que tinham os efeitos da droga no seu corpo. Era uma visão deprimente da juventude de hoje. Questionou-se a si mesma o porquê de tudo aquilo e qual a necessidade de se drogarem desta forma, será que não existe outras maneiras de se divertirem?
            Quando todos saíram, Louise correu para o quarto de Elena e viu um rapaz, que tinha entre 25-28 anos, sair pela porta. Olhou para Louise e só esboçou um sorriso de contentamento, disse algo numa outra língua que Louise não conseguiu descodificar. Entrou no quarto e viu a sua querida amiga Lenny num estado lastimável, quase nua em cima da sua cama, sem conseguir se mexer, mas mesmo assim, tentava chegar á almofada. Louise auxiliou-a, tapou-a e deixou que ela dormisse. Partiu-lhe o coração ver assim alguém que amava tão profundamente, fez-lhe lembrar os tempos em que o seu ex-namorado tinha experimentado tudo o que era drogas e que acabou por se estragar a si mesmo e a relação.
            Elena tinha sido forçada a perder algo que guardava com tanto carinho e agora já não há volta a dar.
            - Lu, como é que eu deixei que isto acontecesse? – Disse chorando.
            - Calma Lenny, eu sei, tudo isto é terrível, mas agora vamos ultrapassar isto juntas, eu não te vou deixar. Tens de ter muita força de vontade para acabares com esta vida de vícios, tens de conseguir levantar a cabeça e seguir em frente.
            - Mas Lu, eu fui violada, perdi a minha dignidade, perdi o orgulho em mim, na minha vida. Desiludi-te… Tinha-te prometido que teria sempre orgulho em mim. Fui uma má amiga Lu, não cumpri o que te prometi. Onde estava o meu orgulho quando comecei a tomar drogas? Não existia, Lu! Desapareceu! Desculpa-me, perdoa-me…
            Louise abraçou-a e deitou-a no seu colo, disse: “A partir de hoje tudo vai mudar, tudo vai correr melhor, não te preocupes.”. Limpou-lhe as lágrimas e fez-lhe festas no cabelo e na cara.
            - Lenny, temos de arrumar tudo isto, desfazer-nos das drogas e, principalmente, temos de ir ao médico, fazer todos os testes que forem necessários, temos de ter a certeza que está tudo bem contigo.  

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Capítulo II – As tentativas, a queda e a luz; (parte 2)


        “Ao início não me apercebi de quem era, e quando acordei ela ainda estava no meu quarto a arrumá-lo. Levanto-me com grande dificuldade e após esfregar os olhos vejo que ela sorri para mim e com a sua voz suave diz:
  -Bom dia, dorminhoca… já te sentes melhor?
Eu não queria acreditar nos meus próprios olhos, era ela, a Louise. Oque estava ela a fazer aqui? Como é que conseguiu voltar novamente a Londres? Senti um enorme alívio dentro de mim, apesar de sentir a minha cabeça pesada. Lu trouxe-me um pequeno-almoço fantástico e sentou-se a meu lado na cama olhando para mim com um misto de emoções. Consegui pressentir que me olhava com ternura por me voltar a ver, mas ao mesmo tempo o seu olhar era tão fatal como o de uma predadora a olhar para a sua presa. Sabia que ela me queria matar, ou pelo menos, dar-me um enorme sermão! Bem o merecia, e assim o fez.”
       Louise e Elena conversaram durante horas. Louise nunca disse uma palavra deixando sempre que Elena falasse, queria saber tudo, queria entender a razão pela qual a sua melhor amiga estava agora neste estado lastimável.
       “Louise, as coisas mudaram muito desde que te foste embora. Não aguentei a pressão do curso, não aguentei o facto de não te ter junto a mim todos os dias, não suportei a ideia de estar sozinha, e cada vez que aqueles abutres com desejo de subir de estatuto social se aproximavam de mim, apenas desejava que eles morressem ou que eu morresse ali mesmo. Não aguentei. Desisti. Eu sei, fiz mal, mas desisti, não suportei mais a ideia de ir as aulas todos os dias, não quis mais saber dos meus sonhos. Fechei-me em casa e durante uma semana não saí, pareceu-me quase um ano. Quando ganhei forças nas pernas, consegui sair, mas apenas tinha na cabeça a ideia de me suicidar. Eu queria, eu sentia que era o mais certo, sentia mesmo que já não valia a pena viver mais neste mundo. Quando estava prestes a fazê-lo, ouvi uma voz, a tua voz, tenho quase a certeza que eras tu, que me dizias “não!”, e por isso recuei, recuei mas não agi melhor a partir daí. As coisas simplesmente pioraram. Nessa mesma noite resolvi sair, fui a todos os bares e discotecas, produzi-me ao máximo e falei com todo o tipo de pessoas. E Louise, foi nesta noite que eu comecei a cometer o maior erro da minha vida. Vi um grupo de jovens, talvez um pouco mais velhos que eu a fumar algo que pessoalmente não conhecia o cheiro era intenso e inicialmente fazia-me imensas dores de cabeça… Para eles era um charro normal, para mim só me custou fumar o primeiro, porque os seguintes eram feitos a brincar. Ria-me imenso com eles, pelas razões mais disparatadas. Passámos a ver-nos todas as noites num beco aqui perto, sempre com o mesmo intuito, quanto mais fumava, mais queria fumar… Experimentei de tudo um pouco. E quando cheguei ao final do ano, comecei a snifar coca. Era uma sensação que me deixava completamente fora deste mundo, visto que não conseguia sair dele pela maneira que pensava ser mais fácil, optei por esta, e agora não consigo sair dela… Mas sentia-me tão bem, o problema é que já só me sentia bem com aquilo. No início deste ano, o mesmo grupo da noite deu-me a experimentar Ecstasy, e foi uma sensação que nunca irei esquecer, demorou cerca de 20 a 30 minutos a fazer efeito, foi o tempo de chegar-mos á “Disco” e começarmos a dançar. Posto isto, nunca mais me quis divertir sem ser com aquele efeito em mim, nunca mais quis saber do mundo real em que vivia, apenas queria consumir, divertir e ficar feliz. Mas estou tão errada, e é agora, com esta ressaca que sinto os erros cometidos, é agora ao ver-te que entendo pela expressão na tua face que deveria ter escolhido outro caminho. Desculpa, Louise.”
         A amiga apenas esboçou um sorriso e abraçou-a com muita força e disse-lhe:
 -Entendo o que sentes, sei que não é fácil, mas esperava que tivesses sido um pouco mais forte. Não o foste, mas não há problema, porque eu vou estar aqui durante uns tempos para te ver erguer. Vamos dar-te uma nova vida, vou fazer-te ver que há mais do que isto. No entanto, sabes que os próximos meses irão ser difíceis. Vais ter de deixar os vícios, vais ter de arranjar um emprego, mudar de estilo de roupa, mudar o corte de cabelo. Vamos a uma clínica e vais ser tratada como deve de ser. Voltarei para Paris, mas assim que o tratamento acabar estarei aqui para te ver… promete-me que não voltarás a fazer um disparate destes! Porque se o voltares a fazer, eu não saberei como reagir!
        Elena apenas abanava afirmativamente e olhava para os lençóis, olhou para a cara da amiga e questionou-se a si própria como seria possível ela estar ali, e como poderia ela entender toda esta situação. “Não hesitei e tive de perguntar:
 -Lu, como vieste novamente a Londres?
 -Os meus pais ganharam um prémio monetário razoavelmente alto num concurso, deu para pagar as despesas de avião até cá.
 -Porque vieste?
 -Tive um pressentimento que não estavas bem… Cheguei ontem e passei no café, mas o dono disse-me que desde há muito que não passavas por lá.
 -Sim é verdade, deixei completamente de ir lá. Mas disseste que entendias a minha situação, como assim entendes? Também já consumiste.
 -Não, mas o meu “ex” consumia. Foram tempos terríveis. Ele nunca me deixou ajudá-lo. Por isso quero ajudar-te, não vou aguentar ver outra pessoa de quem gosto a magoar-se por causa das malditas drogas. Por isso Lenny, deixa-me ajudar-te.
         Olhei-a fixamente, estava prestes a chorar. Só me lembrei de responder, “sim”. Nada mais dissemos uma à outra.
          Tomei o pequeno-almoço e ela não saiu do meu lado, quando acabei ela levantou o tabuleiro, eu olhei em volta e perguntei-lhe: “o que me fizeram ontem Lu? Como vim aqui parar, quase nua, que manchas são estas no meu colchão? Parece sangue, alguém se magoou?” Ela não se virou para mim, apenas disse: “arranja-te e vamos falar sobre o que aconteceu ontem, com mais calma.” Senti o tom da sua voz a tremer, assim como estava o meu corpo a pedir por mais uma dose de adrenalina, de alucinações. Foram as piores sensações da minha vida. Dependência e desilusão. O meu mundo não poderia ser mais imperfeito. Mesmo assim, a minha luz tinha voltado, e iria ajudar.me, iria guiar-me no meu caminho.”
           Apesar do esforço que fez, Elena acordava agora com a luz do sol a bater na cara, e com o sorriso iluminado de Louise no seu pensamento. Mesmo com a sensação de dependência estava tudo a correr pelo melhor… por agora. 

domingo, 13 de novembro de 2011

Capítulo II – As tentativas, a queda e a luz; (parte 1)


    “Eu estava só, sentia-me só. Fechava-me no quarto, não quis mais ir às aulas, não estudei nem quis contactar com o exterior. Valeram-me muito as minhas aulas de teatro, pois consegui sempre enganar os meus pais cada vez que me ligavam. Quanto aos interessados na minha pessoa, ou melhor, interessados no meu estatuto social e no meu dinheiro, recebia imensas mensagens pelo Facebook, ignorei-as a todas, apenas me faziam sentir ainda mais miserável.”
      Sentiu o seu mundo a desmoronar, entrou numa grande depressão em que nada a parecia salvar. A Louise não estava por perto para poder ajudá-la, e cada vez que disso se lembrava era como que mais uma faca se espetasse no seu coração. Era uma dor insuportável, chorava dia e noite, deixou de comer, não saía à rua, já á uma semana que não via a luz do dia. No entanto, não era a luz do dia que Elena precisava, mas sim uma luz de esperança, um milagre, algo que lhe desse uma razão para viver. Ela perdeu essa razão, perdeu a força para continuar, escrevia muitas vezes em folhas em branco com uma letra muito grande e gatafunhos muito acentuados: “Morre”; “Quero Morrer”; “Não faço falta neste mundo”. Sinais de alarme vindos da perfeição que silenciosa morria aos poucos, caindo num profundo poço sem que nada a pudesse resgatar.
       Num dia de inverno, Elena ganhou forças e levantou-se da cama, seguiu até à casa de banho e tomou um duche, tentou recompor-se e tomou a decisão de sair de casa. Estava imenso frio e as pessoas andavam numa correria lá fora, – os dias tinham passado tão depressa a seu ver, que nem se recordava em que dia estava – era dia 23 de Dezembro e o espírito natalício pairava no ar. Na sua mente apenas pairava o espírito de quem deseja terminar com a vida. Seguiu até á London Bridge e parou olhando para todos os lados. Ouvia os carros a passar por trás de si, ouvia as buzinas infernais de quem quer chegar cedo a casa. Elena respirou fundo debruçou-se nos ferros e por momentos pensou em deixar-se levar pelo pensamento suicida, sabia que não morreria da queda, mas como não sabia nadar, em dez segundos estaria morta por afogamento, mas tal não aconteceu.
        “Debrucei-me e estava prestes a deixar-me levar pela vontade que tinha de acabar ali mesmo com a minha vida, mas de repente, uma voz gritou bem alto: “Não!”, assustei-me e recuei imediatamente, olhei para todos os lados e não vi ninguém. Estava claramente a alucinar.”.
        Realmente estava. Elena ouviu a voz de Louise, ou talvez a voz do seu subconsciente, uma voz do além que não a permitiu acabar com a sua vida. Não poderia terminar ali, não faria qualquer sentido.
     Passaram-se mais do que dois meses, Elena já desistira do curso, mas muitos mais acontecimentos se sucederam desde a sua primeira tentativa de suicídio.
     Elena começara a responder aos seus admiradores do Facebook, combinou uma “DePaiva Special Party” em que se poderia contar com álcool e drogas. Sim, Elena começou a consumir. Usava metade do dinheiro que os pais lhe davam para comprar Ecstasy e Cocaína, saía à noite e dirigia-se aos subúrbios mais perigosos para comprar quantidade suficiente para duas semanas. Para a “Special Party” gastou todo o dinheiro que tinha do mês de Janeiro, preparava-se agora para uma noite inesquecível, no sentido literal da palavra. 
        Tomou um comprido que acabara de comprar e os convidados começaram a chegar, recebe-os a todos com uma alegria infinita. Se era considerada a rapariga mais popular, mais rica e poderosa, naquele momento, era também a rapariga mais animada de toda a cidade de Londres. Os comprimidos começaram a fazer efeito. Andava à roda de toda agente, dançando com rapazes e raparigas, distribuindo ecstasy e coca por cada um dos convidados. Quem não os quisesse era convidado a sair, afinal de contas era uma “special party”, um momento em que Elena se sentia realmente especial, por estar agora a sentir o prazer das alucinações, de poder esquecer toda a dor e trocá-la por este sentimento de liberdade de espírito, e igualmente, de poder partilha-la com os seus “fãs”.
     Pelo desenrolar da noite e depois de mais de dois litros de água bebidos, Elena dançava descontroladamente em cima da sua mesa da sala (ou pelo menos do que resta dela), a sua volta via tudo andar muito depressa e sente apenas alguém que lhe puxa o braço, era uma mão firme, dedos grossos, certamente um rapaz, leva-a para um local escuro o qual ela não consegue distinguir se é o seu quarto ou a cozinha. Nesse momento, Elena desmaia.
     Acorda no outro dia pela manhã e sente-se como que tivesse levado uma grande tareia, como se tivesse sido atropelada por um camião. Estava praticamente despida, mas deitada por debaixo dos lençóis. Um cheiro estranho paira no ar, mas não consegue perceber o que é, deita novamente a cabeça, que parece pesar uma tonelada, e preparasse para adormecer. Neste momento, a porta do quarto abre-se, e uma figura feminina põe-se de joelhos junto à cama e diz “O que fizeste tu Lenny? ”. Elena adormece profundamente.         

sábado, 12 de novembro de 2011

Capítulo I - Elena, uma rapariga sozinha no mundo;

       “Talvez devesse guardar isto na mente, mas o desejo desperta uma grande ansiedade em brotar todos os sentimentos cá para fora. Não apenas os sentimentos, mas também, os segredos mais obscuros e perigosos. Sim, perigosos. Os segredos que guardamos e as mentiras que deles advém podem causar acontecimentos catastróficos na nossa vida e na vida dos outros.”
        É assim que começa a história, escrita por uma jovem rapariga de Londres, de nome Elena, e era tão perfeita quanto o seu nome. Os seus pais, portugueses de origem, escolheram este nome inspirados na Helena de Tróia. Mr. e Mrs. DePaiva, eram grandes coleccionadores de objectos históricos, e igualmente, eram donos de uma empresa que organizava eventos culturais, que ao longo dos anos se foi expandido e Mr. DePaiva tornou-se um dos milionários mais conhecidos de Londres, organizando muitos dos mais importantes eventos por todo o mundo. Estavam sempre presentes em exposições de arte, teatros, ópera, ou até numa abertura de um novo museu. Idolatravam os deuses gregos, a história do império romano, as trevas da idade média e a ascensão da cultura contemporânea. Eram amantes da história, e por isso, deram à sua primeira e única filha o nome de Elena. E não poderia ser mais perfeito… digamos que, o seu nome, inspirado no nome da filha de Zeus e Leda, encaixava na perfeição da sua pessoa. Elena, 20 anos, era considerada a rapariga mais bela de King’s College London, e por consequência, como não podia deixar de ser, tinha uma lista enorme de pretendentes. Estudava Direito em King’s College, estava agora no primeiro ano, e não podia estar mais… desanimada.
          Ela queria muito ser advogada, sempre foi o seu sonho, mas não estava a aguentar a pressão, ainda pior quando não se tem ninguém com quem contar. A sua vontade era infinita, mas o facto de não ter um verdadeiro amigo deixava-a desanimada e sem forças para continuar. Os seus pais estavam quase sempre ausentes, ligavam-lhe apenas para perguntar sobre os estudos.
        Elena estava então, sozinha. Sozinha num mundo cheio de oportunidades, vida e cor. Mas que nada lhe dava a não ser preocupações e até mesmo desespero.
         "É pena não ter amigos verdadeiros, amigos que não se importem que eu seja como sou, que me aceitem não porque os meus pais são imensamente ricos, mas sim porque gostam da minha presença. É graças ao dinheiro, à fama e ao facto de nunca poder contactar com outros sem que me estejam constantemente a perguntar quando irá ser a próxima festa no meu apartamento - sim, porque todas as pessoas deliram ao saber que eu tenho um apartamento só para mim perto da faculdade, se ao menos elas soubessem o quanto me custa viver sozinha, e que, mesmo quando tenho a casa cheia de gente, com música ao altos berros, bebidas e drogas por todo o lado, me sinto tão isolada. Por vezes, gostava simplesmente que as pessoas deixassem de ser tão materialistas e começassem a olhar com outros olhos para quem eu sou, Elena Marie DePaiva, estudante universitária em Direito, uma pessoa normal… como todas as outras.”
      Para além do seu sonho de ser advogada, Elena gostava imenso de escrever, mantinha sempre o seu diário em dia. Não necessitava de escrever sobre o que se passava durante o dia, pois normalmente resumia-se a aulas e alunos da faculdade que a abordavam várias vezes, sempre com os mesmos diálogos: “És a Elena DePaiva, queres sair comigo?”, “Então Elena, como estão os seus pais?”, “Miss DePaiva, que honra a sua presença”. “Sim, sim, obrigada”, era o que lhes respondia ignorando cada uma das suas faces, cada um dos seus comentários.
            Elena escrevia sobre o que sentia, sobre as saudades que tinha da sua única amiga, uma verdadeira amiga, Louise. Louise era mais velha, 23 anos, morena com um cabelo muito grande e encaracolado, lábios grossos e um corpo sensualmente bem feito. Estudou em Londres durante muitos anos e conheceu Elena por acaso num café que ambas costumavam frequentar. Encontravam-se nesse mesmo café todos os dias. Louise era a sua maior (e única) conselheira, a sua confidente, o seu porto de abrigo. Normalmente as suas conversas baseavam-se em estudos, viagens, rapazes e sexo… coisas normais para duas pré-adultas. Louise era realmente uma pessoa muito viajada, e no que tocava a sexo, dava sempre as melhores dicas e conselhos do mundo. Para Elena era indiferente, pois sabia que não os iria utilizar enquanto não encontrasse alguém que realmente a amasse por aquilo que ela é, e não fosse para a cama com ela apenas pelo seu dinheiro, apenas como uma aposta, apenas como uma noite… Louise retribuía sempre com um sorriso cada vez que Elena lhe dizia que nunca iria utilizar nenhum dos seus conselhos, e sem hesitar dizia-lhe: “Lenny (nome que carinhosamente lhe deu) um dia, vais encontrar um homem maravilhoso e com ele vais ser muito feliz. Acredita, a tua primeira vez irá ser perfeita!” E Elena realmente acreditava, ou pelo menos, tentava acreditar na amiga, como sempre o fazia.
            Com a sua companhia, Elena nunca se sentia sozinha, era como se Louise fosse o seu anjo da guarda; alguém que desceu á terra para salvaguardar o espírito, a mente e o seu corpo. Infelizmente, Louise teve de partir, não conseguiu mais suportar as despesas de estar a estudar em Londres, e por isso, teve de voltar para casa dos seus pais. Elena tentou por tudo impedir que Louise saísse de Londres, disse-lhe muitas vezes que ajudava a pagar fosse o que fosse, mas Louise nunca aceitou um penny. Sempre lhe dizia: “eu não posso aceitar, está contra os meus princípios…”. Era sábia, esperta, e muito, muito orgulhosa de si. Fazia-se sentir a sua presença cada vez que entrava numa sala, tinha uma energia inesgotável que Elena sempre admirou, e claro, respeitou. Assim respeitou também a sua decisão, e teve de a deixar partir.
            No dia da sua partida, Elena levou Louise ao London City Airport, ia partir para Paris, ia para a sua cidade natal, ia voltar para as suas origens e deixar a sua melhor amiga para trás,  isto foi o que lhe disse:
            “Lenny, quero que saibas que eu não estive contigo pelo dinheiro, não tenho a tua amizade como um interesse, não quero nem nunca quis subir de estatuto social só por ser amiga de uma pessoa riquíssima, não Lenny, nunca foi isso! Tu és uma pessoa cheia de vida, uma rapariga com um coração tão perfeito quanto a tua cara, o teu cabelo, o teu corpo. Não penses nunca em ficar em baixo, não estragues nunca aquilo que és, por dentro e por fora…orgulha-te! Tem orgulho daquilo que és!”.
            “E assim, demos um enorme abraço, e nunca mais voltei a ver aquela rapariga morena com um cabelo caracteristicamente “afro”, como sinto a falta da minha Lu!”.
            Elena sentia a sua falta, sentia que sem os conselhos da sua verdadeira amiga, não iria conseguir aguentar muito mais tempo. Pensou muitas vezes em suicidar-se, mas a voz da Lu ecoava na sua cabeça e então recuava no pensamento.
            Era difícil, mas teria de suportar todo aquele sofrimento, sozinha.   

Introdução

Muito boa noite meus caros, 

Estou então aqui a criar o meu primeiro blog, no intuíto de postar a minha primeira "longa" história/romance. 
A minha principal actividade é escrever, e quero portanto, partilhar convosco este meu gosto pela escrita, esperando claro que gostem e aceito todo o tipo de comentários ou sugestões que me queiram colocar. Até porque esta história está ainda a ser escrita, apesar da sua estrutura já estar esquemetizada. Pretendo então colocar aqui no blog, o mais regularmente possivel, os vários capitulos desta história sobre Elena, uma rapariga de 20 anos que vive em Londres. Filha de pais ricos e estudante universitária no curso de Direito, até aqui, tudo muito normal, ( ou não ) mas algo está prestes a mudar na sua vida...