segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Capítulo III - Revolta e Reviravolta (parte 2)


          Fizeram tudo isso, a casa ficou limpa, sem quaisquer indícios de que na noite anterior tivessem ali estado uma manada de jovens com desejos de se divertirem sobre os efeitos do álcool e das drogas. Eram já três horas da tarde quando saíram de casa e foram para a clinica privada onde Elena costumava ir, sabia que lá o seu médico a ia ajudar no que fosse necessário, e claro, sem que os seus pais soubessem. O doutor fez todo o tipo de análises e pediu que lá voltasse em duas semanas, mas entretanto, Elena teve claramente de contar tudo o que se tinha passado com ela, pedindo assim conselhos ao seu médico. Após ouvir tudo cautelosamente, o doutor recomendou-lhe uma óptima clínica longe da zona de Londres onde poderia se dirigir e lá saberiam o que fazer com ela após uma primeira consulta.
            Duas semanas se passaram, Louise e Elena voltaram à clínica para receber os resultados de todos os exames e análises que Elena tinha feito. Teve sorte, não acusou nada de grave, mas o médico mesmo assim, recomendou-lhe alguns medicamentos, pois reparou que os seus níveis do fígado estavam demasiados elevados. Seguidamente, Elena teve de se despedir de Louise novamente, mas desta vez, Louise levou-a até à clínica onde Elena iria passar uns meses para fazer a sua “limpeza” como gostavam de chamar, e lá se despediram. Não foi tão difícil desta vez, pois tanto uma como outra saberiam que futuramente iriam voltar a ver-se, e que da próxima vez, Elena estaria melhor que nunca.
            “Passei quatro meses e duas semanas naquela bonita clinica, foi deveras agradável. É claro que o tratamento era doloroso, pois deixar de consumir algo tão viciante nunca é fácil, mas posso dizer que conheci muito boa gente, e pela primeira vez, mesmo não estando com a Lu, não me senti sozinha. Ali todos me aceitavam por aquilo que eu era, mesmo sabendo que o motivo por eu estar ali remetia a coisas horríveis do meu passado, mas isso não interessava a nenhum de nós, pacientes, apenas interessava aos psicólogos que nos seguiam. Tínhamos consultas com estes quatro vezes por semana, eram simpáticos e deixavam que falássemos sobre tudo o que nos viesse à cabeça. Não era muito do meu agrado contar a minha vida a um estranho, mas já nada disso importava, ganhei em mim a força de vontade que precisava para poder seguir em frente, sem ter que consumir, sem ter que me considerar lixo. Conheci boas pessoas, bons colegas, fazíamos muitos jogos em conjunto, mas vi também muitos deles que tinha recaídas, não é de todo uma visão que eu goste de recordar, pois lembro-me bem que os levavam para uma sala diferente, davam-lhes uma injecção que eles aparentavam logo ficar mais calmos, e posto isto, muito deles, nunca mais os voltei a ver. Uns diziam que eles tinham sido transferidos para outros hospitais, outros diziam que eles continuavam fechados naquelas diferentes salas. Mas, sinceramente, nada disso me incomodou. Passei a olhar para a minha vida de um modo diferente, comecei a desejar viver, a querer ir mais além. Estou muito grata a todos os que dentro da clínica me ajudaram, e fizeram de mim uma nova pessoa. E disto, não desejo falar mais.”
            Após os quatro meses de recuperação, Elena voltou para o seu apartamento em Londres, cheirava bem, a novo, a rosas, parecia que uma autêntica fada do lar tinha passado pelo seu apartamento e tivesse lá deixado uma prenda maravilhosa, um novo bem-estar na sua própria casa. Olhou para o fundo do corredor e viu duas malas no chão, a porta do seu quarto abriu e saltou para os seus braços a sua amiga Lu. Foi um momento radiante para Elena, Louise tinha cumprido com a sua promessa de estar presente quando terminasse a “limpeza”.  
            -Lu, que feliz estou por te voltar a ver, tenho tanto que te contar! – dizia Elena com as lágrimas de felicidade a escorrerem-lhe pela cara.
            -Eu também tenho muito para te contar, nem vais acreditar. Mas olha para ti, estás com tão bom aspecto!
            -Obrigada, tu também estás optima! E o que se passou aqui? Foste tu que arrumaste tudo isto? Até tem decorações novas. Não me digas que andas-te a gastar dinheiro sem necessidade?
            - Não Lenny, não fui eu. Mas está uma carta ali na mesa do corredor para ti…
            Ao abrir a carta Elena estremeceu, sentiu os seus joelhos fracos e a sua respiração ficou acelerada, e a carta dizia:
            “Querida Ms. Depaiva,
           
            Desculpe ter entrado assim na sua casa sem avisar, mas há algo que necessita saber, os seus pais lamentam muito não poder estar presentes no seu próximo aniversário, mas têm de continuar a sua viagem pela Europa.
            Fiz-lhe toda a limpeza necessária e a sua mãe comprou-lhe novas decorações para o seu apartamento, o seu pai necessita de falar consigo, tanto um como outro estão muito preocupados. Por favor ligue-lhes.”
           
            Elena mostrou a carta a Louise, sentaram-se as duas no sofá e Elena pega no telefone.
            -Lenny sei que vai custar - dizia Louise – mas tens de lhes contar, tens de lhes contar o que aconteceu.
            -Lu, eu não posso fazer isso, não lhes vou contar toda a verdade, vou-lhes dizer que estive doente, que perdi o interesse no curso e que desisti.
            -Achas que eles vão aceitar isso assim tao facilmente?
            -Eu falo com o meu pai, ele é compreensivo, apesar de estarem sempre ausentes, eles sempre me deixaram fazer o que eu achasse melhor, talvez se eles estivessem mais vezes ao meu lado eu não teria tomado o caminho que tomei.
            -Mas agora não te podes lamentar, tens de seguir em frente. Fala com eles, explica-lhes a situação como achares melhor, mas por favor, faz-lhes ver que irás fazer algo da tua vida, algo de bom.
            -Não te preocupes, esse é o meu objectivo!
            Elena falou com o pai durante algum tempo, cerca de quarenta e cinco minutos. Uma conversa que nunca tinha tido com ela, no entanto, deixou-lhe o destino nas mãos, como sempre. Disse-lhe que deveria arranjar um emprego, que finalmente deveria crescer, tornar-se uma verdadeira mulher independente, disse-lhe igualmente que lamentava não estarem sempre presente para poder ajudar, mas não poderiam deixar o negócio. Despediu-se rapidamente. Elena desligou o telefone e contou tudo a Louise.   
            -Minha amiga, está na altura da tua mudança – disse Louise muito exaltada.
            -Mudança Lu? O que queres dizer?
            -Lenny, vamos comprar roupa, vamos ao cabeleireiro, e tudo mais, vá meche-te! – dizia puxando-a para a porta
            -Calma Lu! Calma!

Sem comentários:

Enviar um comentário