domingo, 20 de novembro de 2011

Capítulo III – Revolta e Reviravolta (parte 1);


         “O vento arrasta as coisas, leva-as para longe do alcance físico, para longe da estação actual. O vento trás consigo várias fases: uma suave e meiga que nos faz sentir prazer só de soprar ao de leve pela nossa pele, que nos deixa contemplar tudo o que com ele arrasta, no entanto, tudo passa, nada volta por muito que tentemos, nunca volta. Outra fase, mais brusca, onde o vento sopra com mais força e que lentamente nos vai castigando. Por fim, vem a tempestade onde tudo se desmorona e nada podemos fazer. Já não sinto nada. Estou intacta entre os braços de quem me ajuda a levantar. Desmaiei ao saber o que me aconteceu, simplesmente não queria acreditar.
            Tal como o vento, eu passei por todas as fases: tive o suave prazer de ter a Lu, senti que ela se foi embora e a maneira tão brusca com que isso me afectou, agora, estou a recuperar de uma tempestade. Eu fui violada, e aí as recordações forçadas da noite passada voltam á minha mente, flashes de uma noite de alucinações, uma noite que acabou no meu quarto, na minha cama, com o meu corpo a ser possuído por um ser que desconheço. E nada pude fazer. Não queria acreditar, mas Lu mostrava firmeza e verdade. Aceitei o temporal com dificuldade, mas a revolta tomava conta de mim.”.
            Louise explicou-lhe tudo o que tinha visto acontecer, que depois de a ter procurado no café foi a sua casa, e com grande dificuldade entrou. Havia sacos de Ecstasy e Coca por todo o lado, garrafas partidas, os quadros também eles partidos, mesmo assim, a noite para todos aqueles seres humanos, se assim se pode considerar, era ainda uma criança. Procurou-a no meio da multidão, tentou perguntar por ela, mas era inútil ninguém a ouvia, só queriam “curtir” dos efeitos da droga e ouvir a música irritante que alguém tinha acabado de pôr a tocar. Para eles, tudo aquilo era um paraíso de sensações. Para Louise, era uma imagem do inferno, da qual queria sair imediatamente, mas não sem encontrar Lenny.
              Passando o longo corredor viu dois rapazes a guardar a porta do quarto de Elena. Pediu para entrar, mas sem sucesso, afastaram-na imediatamente da porta e disseram-lhe: “Está a decorrer um evento importante com Miss DePaiva, ninguém pode entrar!”. Dito isto, Louise ouve um grito vindo do quarto, tentou por tudo entrar, mas não conseguiu, com aqueles dois brutamontes a fazer de seguranças, era impossível… Pôs em prática o plano B.
            Foi até á sala, desligou aquela música infernal e pegando no telemóvel disse aos berros: “Quero todos fora daqui, a polícia vem a caminho!”. Quando ouviram gritar o nome da polícia todos se puseram a correr, parecendo uma manada em deslocação. Os que ainda se encontravam sóbrios ajudaram os que tinham os efeitos da droga no seu corpo. Era uma visão deprimente da juventude de hoje. Questionou-se a si mesma o porquê de tudo aquilo e qual a necessidade de se drogarem desta forma, será que não existe outras maneiras de se divertirem?
            Quando todos saíram, Louise correu para o quarto de Elena e viu um rapaz, que tinha entre 25-28 anos, sair pela porta. Olhou para Louise e só esboçou um sorriso de contentamento, disse algo numa outra língua que Louise não conseguiu descodificar. Entrou no quarto e viu a sua querida amiga Lenny num estado lastimável, quase nua em cima da sua cama, sem conseguir se mexer, mas mesmo assim, tentava chegar á almofada. Louise auxiliou-a, tapou-a e deixou que ela dormisse. Partiu-lhe o coração ver assim alguém que amava tão profundamente, fez-lhe lembrar os tempos em que o seu ex-namorado tinha experimentado tudo o que era drogas e que acabou por se estragar a si mesmo e a relação.
            Elena tinha sido forçada a perder algo que guardava com tanto carinho e agora já não há volta a dar.
            - Lu, como é que eu deixei que isto acontecesse? – Disse chorando.
            - Calma Lenny, eu sei, tudo isto é terrível, mas agora vamos ultrapassar isto juntas, eu não te vou deixar. Tens de ter muita força de vontade para acabares com esta vida de vícios, tens de conseguir levantar a cabeça e seguir em frente.
            - Mas Lu, eu fui violada, perdi a minha dignidade, perdi o orgulho em mim, na minha vida. Desiludi-te… Tinha-te prometido que teria sempre orgulho em mim. Fui uma má amiga Lu, não cumpri o que te prometi. Onde estava o meu orgulho quando comecei a tomar drogas? Não existia, Lu! Desapareceu! Desculpa-me, perdoa-me…
            Louise abraçou-a e deitou-a no seu colo, disse: “A partir de hoje tudo vai mudar, tudo vai correr melhor, não te preocupes.”. Limpou-lhe as lágrimas e fez-lhe festas no cabelo e na cara.
            - Lenny, temos de arrumar tudo isto, desfazer-nos das drogas e, principalmente, temos de ir ao médico, fazer todos os testes que forem necessários, temos de ter a certeza que está tudo bem contigo.  

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