domingo, 13 de novembro de 2011

Capítulo II – As tentativas, a queda e a luz; (parte 1)


    “Eu estava só, sentia-me só. Fechava-me no quarto, não quis mais ir às aulas, não estudei nem quis contactar com o exterior. Valeram-me muito as minhas aulas de teatro, pois consegui sempre enganar os meus pais cada vez que me ligavam. Quanto aos interessados na minha pessoa, ou melhor, interessados no meu estatuto social e no meu dinheiro, recebia imensas mensagens pelo Facebook, ignorei-as a todas, apenas me faziam sentir ainda mais miserável.”
      Sentiu o seu mundo a desmoronar, entrou numa grande depressão em que nada a parecia salvar. A Louise não estava por perto para poder ajudá-la, e cada vez que disso se lembrava era como que mais uma faca se espetasse no seu coração. Era uma dor insuportável, chorava dia e noite, deixou de comer, não saía à rua, já á uma semana que não via a luz do dia. No entanto, não era a luz do dia que Elena precisava, mas sim uma luz de esperança, um milagre, algo que lhe desse uma razão para viver. Ela perdeu essa razão, perdeu a força para continuar, escrevia muitas vezes em folhas em branco com uma letra muito grande e gatafunhos muito acentuados: “Morre”; “Quero Morrer”; “Não faço falta neste mundo”. Sinais de alarme vindos da perfeição que silenciosa morria aos poucos, caindo num profundo poço sem que nada a pudesse resgatar.
       Num dia de inverno, Elena ganhou forças e levantou-se da cama, seguiu até à casa de banho e tomou um duche, tentou recompor-se e tomou a decisão de sair de casa. Estava imenso frio e as pessoas andavam numa correria lá fora, – os dias tinham passado tão depressa a seu ver, que nem se recordava em que dia estava – era dia 23 de Dezembro e o espírito natalício pairava no ar. Na sua mente apenas pairava o espírito de quem deseja terminar com a vida. Seguiu até á London Bridge e parou olhando para todos os lados. Ouvia os carros a passar por trás de si, ouvia as buzinas infernais de quem quer chegar cedo a casa. Elena respirou fundo debruçou-se nos ferros e por momentos pensou em deixar-se levar pelo pensamento suicida, sabia que não morreria da queda, mas como não sabia nadar, em dez segundos estaria morta por afogamento, mas tal não aconteceu.
        “Debrucei-me e estava prestes a deixar-me levar pela vontade que tinha de acabar ali mesmo com a minha vida, mas de repente, uma voz gritou bem alto: “Não!”, assustei-me e recuei imediatamente, olhei para todos os lados e não vi ninguém. Estava claramente a alucinar.”.
        Realmente estava. Elena ouviu a voz de Louise, ou talvez a voz do seu subconsciente, uma voz do além que não a permitiu acabar com a sua vida. Não poderia terminar ali, não faria qualquer sentido.
     Passaram-se mais do que dois meses, Elena já desistira do curso, mas muitos mais acontecimentos se sucederam desde a sua primeira tentativa de suicídio.
     Elena começara a responder aos seus admiradores do Facebook, combinou uma “DePaiva Special Party” em que se poderia contar com álcool e drogas. Sim, Elena começou a consumir. Usava metade do dinheiro que os pais lhe davam para comprar Ecstasy e Cocaína, saía à noite e dirigia-se aos subúrbios mais perigosos para comprar quantidade suficiente para duas semanas. Para a “Special Party” gastou todo o dinheiro que tinha do mês de Janeiro, preparava-se agora para uma noite inesquecível, no sentido literal da palavra. 
        Tomou um comprido que acabara de comprar e os convidados começaram a chegar, recebe-os a todos com uma alegria infinita. Se era considerada a rapariga mais popular, mais rica e poderosa, naquele momento, era também a rapariga mais animada de toda a cidade de Londres. Os comprimidos começaram a fazer efeito. Andava à roda de toda agente, dançando com rapazes e raparigas, distribuindo ecstasy e coca por cada um dos convidados. Quem não os quisesse era convidado a sair, afinal de contas era uma “special party”, um momento em que Elena se sentia realmente especial, por estar agora a sentir o prazer das alucinações, de poder esquecer toda a dor e trocá-la por este sentimento de liberdade de espírito, e igualmente, de poder partilha-la com os seus “fãs”.
     Pelo desenrolar da noite e depois de mais de dois litros de água bebidos, Elena dançava descontroladamente em cima da sua mesa da sala (ou pelo menos do que resta dela), a sua volta via tudo andar muito depressa e sente apenas alguém que lhe puxa o braço, era uma mão firme, dedos grossos, certamente um rapaz, leva-a para um local escuro o qual ela não consegue distinguir se é o seu quarto ou a cozinha. Nesse momento, Elena desmaia.
     Acorda no outro dia pela manhã e sente-se como que tivesse levado uma grande tareia, como se tivesse sido atropelada por um camião. Estava praticamente despida, mas deitada por debaixo dos lençóis. Um cheiro estranho paira no ar, mas não consegue perceber o que é, deita novamente a cabeça, que parece pesar uma tonelada, e preparasse para adormecer. Neste momento, a porta do quarto abre-se, e uma figura feminina põe-se de joelhos junto à cama e diz “O que fizeste tu Lenny? ”. Elena adormece profundamente.         

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